Me lembro bem de quando era pequeno, devia ter uns 4 ou 5 anos, e o meu pai me mostrou um rádio de pilhas. Custei até acreditar que o som que saia do aparelho vinha de um lugar distante, sem fio. Para mim, como não tinha fio, só havia uma explicação para aquilo acontecer; o som estava gravado dentro do aparelho. Só depois de um tempo eu descobri que era sem fio mesmo.
Sabemos que muitas coisas podem ser transmitidas sem fio. Sons, imagens, dados e até energia. As pessoas já assimilaram essas tecnologias e hoje estão familiarizadas com elas em seu dia a dia.
Mesmo assim, é engraçado como a tecnologia da informação pode ser algo tão familiar e ao mesmo tempo tão distante na vida das pessoas.
Hoje eu estava almoçando na praça de alimentação de um shopping aqui em Porto Alegre e não pude deixar de escutar a conversa de um casal sentado na mesa ao lado.
A moça diz ao rapaz:
– Olha aquele senhor ali com o notebook. Deve estar querendo aparecer.
O rapaz responde:
– Não, ele está navegando na Internet. Provavelmente está aproveitando o seu horário de almoço para responder alguns e-mails de trabalho.
– Navegando na Internet? Como? Não tem nenhum fio azul ligado?
– Aqui no shopping tem Internet sem fio! Wireless.
– Wireless???
– Isso mesmo. Não precisa de fio. A maioria dos notebooks de hoje vem com a placa para acessar Internet sem fio.
– Vou comprar um notebook para mim.
– Mas não compra aqueles baratinhos, pequeninhos, que não vem com CD/DVD e nem HD, são uma porcaria.
– Um notebook bom custa mais de R$ 5.000,00. Abaixo disso deve ser só porcaria.
Depois disso não escutei mais a conversa.
É interessante notar a associação que a moça fez da Internet ao cabo azul. Provalmente ela nunca acessou a Internet de uma conexão discada (geralmente o cabo é de outra cor), mas viu que, no escritório onde trabalha, somente os computadores que tem um cabo azul acessam a Internet. Talvez não assista televisão também e nunca tenha visto a propaganda da Claro 3G.
Mesmo sem saber que existe Internet sem fio (e isso já faz mais de uma década) ela se arrisca a avaliar a qualidade de um notebook apenas pelo preço. Talvez ela tenha acreditado no que o seu companheiro disse sobre aqueles notebooks “pequeninhos” e “baratinhos” que não tem drive de CD/DVD e nem HD.
O rapaz parece bem entendido do assunto mas qual é o problema de um notebook não ter drive de CD/DVD e HD? Com o preço sugerido pela moça, é possível comprar um MacBook Air, que também não tem drive de CD/DVD e nem HD.
As pessoas tem uma tendência de se apegar ao passado e não percebem (não querem perceber) que as coisas mudam, ainda mais quando se trata de tecnologia da informação. A moça só conhecia o “fio azul” e o rapaz acredita que um notebook sem drive de CD/DVD é uma porcaria.
Querer usufruir desta tecnologia sem a compreender é como “dar um tiro no pé”. O problema da tecnologia da informação está relacionado à própria informação, ou melhor, à falta dela. As pessoas não lêem, não acompanham o noticiário, não se informam.
Por não conhecerem bem as tecnologias ou por não entenderem bem as suas próprias necessidades, as pessoas acabam desperdiçando tempo, dinheiro e os recursos naturais que foram utilizados para a manufatura de um determinado equipamento que é sub-utilizado.
A única forma de se evitar isso é mantendo-se informado. Acho que se a moça realmente quiser adquirir um equipamento sem fio, deveria antes comprar um radinho de pilha e passar alguns meses escutando a Band News ou a Gaúcha, para depois decidir que notebook comprar.
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