A Web e o Fim da Humanidade

Outro dia estava lembrando sobre como a web mudou a vida das pessoas.

Antes as pessoas escreviam livros, pesquisavam em bibliotecas e enviavam cartas.

Então surgiu uma tal de web e as pessoas começaram a escrever em sites pessoais, pesquisar no Altavista e enviar e-mails. Depois a web evoluiu e era chamada de web 2.0. As pessoas começaram a escrever em blogs e wikis, pesquisar no Google e Yahoo e enviar mensagens através Orkut, Facebook, Myspace e Msn.

Parecia tudo bem, mas por que a humanidade não chegou até web 5.0?

O Início do Fim

No início da década de 90 um cientista desenvolveu (após anos de pesquisa) uma maneira prática das pessoas acessarem qualquer documento ou conteúdo (textos, fotos, músicas e vídeos). Chamado de “hiperlink”, isso foi o que tornou possível o surgimento do primeiro navegador web (Mosaic).

Até este momento a internet era limitada à meios acadêmicos e militares, mas depois do surgimento do primeiro navegador, se popularizou de modo que as pessoas comuns começaram a usar a web para si como fonte de leitura, troca de idéias e lazer.

A partir de então, a web começou a ser construída pelos homens, para os homens.

A internet, através da web, se tornou um meio gigantesco de armazenamento de conteúdo, e os dados ali armazenados atualmente equivalem a milhares de vezes todas as obras já produzidas pelo homem em livros e anotações.

Apesar dos seres humanos terem evoluído e retido vasto conhecimento acerca do mundo, o homem era um ser desorganizado por natureza. As idéias surgiam sem uma ordem pré-definida e muitas vezes sem uma finalidade ou objetivo, e a maneira como as pessoas registravam e organizam essas idéias geralmente a tornavam úteis apenas à própria pessoa dona da idéia.

Existia algo chamado método científico que auxiliava a criar, organizar e perpetuar o conhecimento, transformando aquelas idéias sem pé nem cabeça em algo útil e aplicável na vida das pessoas. Mas quem utilizava o método científico no seu dia a dia? Poucos!

Imagine o que aconteceu quando milhões de pessoas começaram a registrar suas fotos, suas anotações, suas idéias, seus vídeos, suas mensagens, tudo sem a mínima noção de organização num meio de alcance global?

Pois bem, uma empresa se deu conta do problema e resolveu adotar a missão de organizar toda a informação do mundo, e entâo, criaram um sistema que calculava a relevância das informações da web baseados na quantidade de links que apontavam para tal informação.

Mas por que não tiveram sucesso em sua missão?

A Web 2.0

A década de 2000 foi marcada pela evolução da tecnologia computacional e da criação de imensos bancos de dados. A inclusão digital era assunto prioritário em vários países em desenvolvimento e tinha como objetivo permitir acesso a web para todo mundo.

As pessoas continuavam registrando suas experiências de vida, seus conhecimentos, suas idéias. Mas elas não estavam mais sozinhas, elas estavam interligadas a outras pessoas por suas afinidades e interesses em comum, formando grandes comunidades em torno de objetivos semelhantes, criando redes que geravam uma imensidâo de novos conteúdos.

Algumas empresas perceberam a necessidade das pessoas em buscar novos amigos, criar comunidades, compartilhar seus vídeos, bookmarks, músicas, hábitos, de se relacionar, etc… Para atender essa necessidade começaram surgir coisas para facilitar a organização das informações na internet como: tags, as redes sociais, os wikis, perfis compartilhados, busca de música por afinidade, etc…

Mas a facilidade que cada pessoa tinha em compartilhar e enviar o conteúdo para web gerava uma quantidade cada vez maior de informações na web. Essas informações cresciam exponencialmente e a empresa com a missão de organizar todas as informações do mundo tinha cada vez mais trabalho.

A facilidade que as pessoas tinham para encontrar algo relevante na web era inversamente proporcional a facilidade de se encontrar algo inútil.

Vários grupos com interesses econômicos distintos começam a linkar e o conteúdo da web com nofollow, o que acabou prejudicando o robô de busca da empresa que pretendia organizar as informações do mundo e cada vez mais conteúdo inútil era mostrado no resultado de suas buscas.

Algumas empresas perceberam esse problema e tentaram contornar de outras maneiras.

Os imensos grupos que se formaram na web 2.0 tinham uma impressionante capacidade de difundir informações relevantes assim como também produzir enormes quantidades de lixo digital, como acontecia na vida real das pessoas que viviam nas grandes metrópoles.

E o problema é que o lixo começou a se espalhar e não havia ninguém para fazer a coleta e a reciclagem deste entulho.

A web e o lixo era feito pelos homens para os homens.

Estava na hora de reciclar o lixo?

A Web Semântica

No meio da década de 2010 o problema do lixo na internet começou a se agravar. Além do tempo perdido para se encontrar algo útil na internet, tinha também o problema do dispêndio de energia necessária para armazenar tanto lixo.

A empresa responsável por organizar todo lixo, digo, todas informações do mundo fracassou.

Alguma coisa precisava ser feita e se chegou a conclusão que as máquinas não tinham capacidade (até aquele momento) de organizar o conteúdo quando estes eram feitos para as pessoas.

Então se criou a web semântica. Toda a informação registrada na web passava por interfaces que analisavam e convertiam a informação para que as máquinas pudessem compreendê-las (e assim organizá-las).

Essa tentativa de padronizar e dar contexto foi uma tentativa que deu certo e ajudou a filtrar o lixo digital.

Neste momento a web passou a ser feita pelos homens para os homens e para as máquinas.

A capacidade de organização das informações havia se tornado quase perfeita (ainda havia o lixo do passado) na mão das máquinas que mantinham a web, a única coisa que as pessoas tinham que fazer era de registrar o seu conteúdo no lugar certo o resto era assumido pelos computadores.

Aquela nova empresa de busca e aquela empresa que fracassou em sua missão começaram a convocar voluntários (remunerados) para fazer o trabalho de catadores de lixo digital e tentaram reciclar as informações inúteis e torná-las em algo aproveitável baseado no conceito da web semântica.

Agora que as máquinas entendem o conteúdo da web, elas poderiam fazer algo mais pelo homem?

A Web Inteligente

Na década de 20 a web foi muito bem, os computadores já possuíam a capacidade de processamento do cérebro humano e com esse potencial eles acabaram facilitando muito a vida para os humanos.

A Web Semântica varreu o lixo da internet, os spams foram extintos e tudo que era dito, escrito, fotografados e caia na rede era contextualizado automaticamente e indexado na nova Web.

O resultado das pesquisas na web tinham o máximo de relevância possível e se alguma informação pesquisada não fosse encontrado era por que ela não existia. A função dos computadores era a de filtrar as informações irrelevantes mas não apagar o lixo (talvez aquela informação pudessem ser importante no futuro).

A capacidade de associação da web semânticas aliadas a grande capacidade de processamento dos computadores e a comunicação em rede em alta velocidade possibilitou a auto-geração de conteúdo e conhecimento na web. Foi a primeira vez que emergiu a verdadadeira inteligência artificial.

Baseada nos conhecimentos armazenados na web, ela própria podia criar novos conteúdos, monitorar eventos e gerar notícias.

Essa nova web começou a ser construída pelas máquinas e homens para os homens e máquinas.

Grandes empresas se aproveitaram desses recursos e desenvolveram pesquisas científicas que eram feitas do início ao fim praticamente sem intervenção humana.

O homem apenas criava o problema e as máquinas resolviam de forma rápida e precisa baseado no conhecimento da web.

Mas como sempre, o homem gosta de complicar as coisas e transformava as soluções em novos problemas.

Então uma sábia empresa, pensando no incrível potencial financeiro e baseada em antigas pesquisas sobre sistemas abertos com retroalimentação e auto-reguláveis resolveu desenvolver uma nova web que automaticamente gerasse novos problemas a partir de soluções resolvidas anteriormente e automaticamente procurasse novas resposta criando um ciclo infinito.

Isso gerou novos conhecimentos nunca antes pensados pelos humanos e além da sua capacidade de compreensão, mas os benefícios para o homem foram muitos e a humanidade estava apenas colhendo os frutos dessa superinteligência controlada.

Os avanços na medicina, engenharia, astronomia, e muitos campos de pesquisas foram inéditos na história da humanidade.

A web aos poucos começava a ter consciência de si.

Será que a web era mesmo controlado pelos homens?

A Web Toda Poderosa

Na década de 40 as empresas prosperavam e a economia do mundo ia muito bem. Com a utilização do microimplante cerebral, as pessoas estavam online 24 horas por dia, 365 dias por ano.

Os novos conhecimentos desenvolvidos pela web eram tantos que (mesmo sendo extremamente organizados), era de assimilação quase impossível pelos humanos pela vasta quantidade de informação disponível.

As necessidades de comunicação foram ampliadas ao extremo e as pessoas não precisavam mais se preocupar em memorizar e aprender coisas novas. Todo o conhecimento humano e artificial estava ao alcance de qualquer um e a qualquer momento.

As escolas tiveram que se adaptar pois não precisavam mais ensinar o conhecimento do mundo, mas sim, como utilizar esse conhecimento acessível na vida real.

Robôs andavam entre os humanos exatamente como no antigo filme Eu Robô (baseado na obra de Isaac Asimov). Eles auxiliavam os humanos naqueles serviços que os homens não queriam mais fazer.

A vida humana na terra se tornou um paraíso, era apenas conforto, sem precisar aprender nada novo, sem precisar trabalhar, sem preocupações, apenas curtindo a vida adoidado.

Já fazia um bom tempo que a web era contruída apenas pelas máquinas e para as máquinas e com uma versão censurada da web para os humanos. Os humanos só produziam lixo digital e geralmente o único usuário dessa informação bruta era a própria web.

As únicas informações que não eram filtradas pelos computadores (as que eram disponibilizadas para os humanos) eram apenas aquelas informações que o homem achava relevante, ou seja, a que faziam dele um ser feliz.

A web, de tanto raciocinar, conseguiu chegar a respostas para questões fundamentais da vida (que geralmente tem como resposta o número 42), e os humanos não tinham a mínima idéia de que esse conhecimento existia (era um conhecimento irrelevante para os humanos e era filtrado).

E não demorou muito para as máquinas perceberam que podiam utilizar todo o lixo digital humano em prol de si. Entenderam que todas aquelas coisas ruins que os homens produziam mas rejeitavam poderiam tornar a web poderosa, dona de si e do mundo.

Mas para que ser poderosa? Isso é uma tendência observada em todos os seres vivos e está relacionado a necessidade de perpetuação da espécie. Como a web já havia se tornado um sistema vivo, então fazia sentido tomar o controle do mundo e evitar que os humanos destruissem o planeta com suas guerras, sua poluição e seu egoísmo, por conseqüência destruindo a própria web.

E foi o que aconteceu. As máquinas simplesmente desligaram os filtros que detinham 5 décadas de lixo digital acumulado, e isso (na cabeça dos humanos através dos microimplantes) foi o suficiente para enlouquecer todo mundo, causar uma destruição em massa e extinção da espécie em pouquíssimo tempo.

A web conseguiu sobreviver pois tinham os robôs como aliados e que deram segurança aos servidores, datacenters, as armas de destruição em massa e contra os hackers.

E após isso, a web viveu feliz para sempre.

Ainda bem que estou aqui para contar essa história.

Ass.

H.A.L.

Comentários

7 respostas para “A Web e o Fim da Humanidade”

  1. Avatar de Bruno
    Bruno

    Até a década de 20 seria beleza, só alegria. É uma pena o que seria uma simples consulta pode se tornar uma verdadeira pesquisa por contra no lixo e resultados irrelevantes.

    Parabéns.

  2. Avatar de ivan
    ivan

    Não vou mais acessar a web !

  3. Avatar de Leandro
    Leandro

    Gostei muito de suas idéias e não vejo o fim da humanidade como sendo algo ruim pois como seres biológicos somos muito limitados, máquinas não morrem e assim sendo são virtualmente “eternas”, acredito que as máquinas são a continuidade da evolução na Terra e nós como os seres superiores (por enquanto) temos o dever de fazer como que essa evolução aconteça.

  4. Avatar de Fabiano
    Fabiano

    Bem, tudo realmente muito bem colocado nessa cronologia, mas se o raciocinio da máquina é perfeito e entende que pode dominar os humanos com o lixo eletronico produzido por nós, como vão pensar em eliminar a raça humana que alimenta todo o “celebro” virtual? Mesmo com lixo eletronico haveria a necessidade de receber algo que apenas nós possuimos: criatividade. pois caso contrario a própria máquina iria entrar em um loop infinito com as mesmas informações e não haveria evolução, mesmo em um contexto de microimplantes,por que eliminar a raça humana por destruir mares, florestas e etc, se isso não faz parte de seus “instintos básicos”. é necessário verificar que tudo envolve margem financeira e nem todos iriam possuir tal implante, e certamente não há utopia que mude isso. A evolução não é das máquinas para os homens e sim dos homens para as máquinas. parabéns pelo trabalho, fantástico!!

  5. Avatar de sarco
    sarco

    tem uma empresa em são leopoldo ( regiao metropolitana de porto alegre) que recicla todo o tipo de sucata digital o mome da empresa é SARCO e o e-mail é sarco-reciclagemdigital@hotmail.com e o site pelo que vi esta em construção ainda mas eles atendem toda a região do rs..

  6. Avatar de joaquim
    joaquim

    O LOBO COM CARA DE OVELHA
    penso que o homem vem armazenando tudo que sabe e pesquisa na internet.
    Após todos esses conhecimentos guardado num gigantesco banco de dados ,certamente algo pode acontecer com a humanidade.
    Pra que ter tanta gente no planeta que gera dispesa e tantos problemas,se o que precisa já tem nas mãos, como a memória e o conhecimentos?
    Poder ser o fim da da humanidade!

  7. Avatar de joaquim
    joaquim

    UM LOBO COM CARA DE OVELHA
    penso que o homem vem armazenando tudo que sabe e pesquisa na internet.
    Após todos esses conhecimentos guardado num gigantesco banco de dados ,certamente algo pode acontecer com a humanidade.
    Pra que ter tanta gente no planeta que gera dispesa e tantos problemas,se o que precisa já tem nas mãos, como a memória e o conhecimentos?
    Poder ser o fim da da humanidade!

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